GRIPE
AVIÁRIA PODE SE TORNAR PANDEMIA
imagefonte:www.seuhistory.com (Instituto Nacional de Saúde dos EUA)
Ao que
parece o virus criado em laboratório começou um processo de mutação
descontrolada. (O grifo é meu)
Estudo
censurado pelo conselho de biossegurança dos EUA revela que apenas cinco
mutações do vírus levariam à contaminação, pelo ar, de mamíferos.
Alessandro
Greco- especial para o iG | 21/06/2012 15:33:25- Atualizada às 21/06/2012
16:53:45
Quando um
periódico científico do porte da Science, uma das mais prestigiosas do mundo,
faz uma teleconferência com seis cientistas espalhados pelo mundo pode-se
presumir que o trabalho a ser apresentado é de impacto. Agora ao ouvir o
editor-chefe da revista, Bruce Alberts, um bioquímico de respeito mundial, abrir
a conferência dizendo que a revista irá publicar dois artigos científicos de
forma aberta - (qualquer pessoa pode acessar os textos livremente via internet,
o que é extremamente incomum no caso dela) - é bom prestar atenção.
Estudo
polêmico sobre mutação da gripe das aves é publicado
De acordo
com Alberts, os artigos mostram que há um “potencial real para o vírus H5N1 (o
vírus da gripe aviária) evoluir para uma forma que possa causar uma pandemia”.
É importante, porém, escutar os detalhes para não cair na tentação de achar que
é apenas uma frase de efeito – para o lado catastrófico ou para o
sensacionalista.
O que dizem
os artigos
O primeiro
artigo científico, liderado por Ron Foulchier, do Centro Médico Erasmus, na
Holanda, buscou entender como o H5N1 pode se tornar transmissível pelo ar em
mamíferos. “Nossa principal conclusão é que o vírus da gripe aviária H5N1 pode
adquirir a habilidade de ser transmitido via aerossol entre mamíferos;
mostramos que um mínimo de 5 mutações e certamente menos de 10 delas são
suficientes para torna-lo transmissível por via aérea”, explicou Foulchier
durante a teleconferência.
Para chegar
a esta conclusão a equipe liderada por ele primeiro identificou as mutações que
levaram à emergência das pandemias de 1918, 1957 e 1968. Em seguida, modificou
geneticamente uma cepa de H5N1 para que ele contivesse essas três mutações para
verificar se isto tornava o virus transmissível pelo ar via pequenas gotas
(aerosol) em doninhas – um pequeno mamífero largamente utilizado como modelo para
transmissão de gripe.
O resultado
foi negativo e os cientistas testaram então quantas vezes era necessário
infectar e reinfectar uma doninha com o vírus modificado para que ele evoluísse
e se tornasse transmissivel pelo ar. “Quando pegamos o virus após 10 passagens
(dele) pelo nariz da doninha verificamos que tinha desenvolvido a habilidade de
se transmitir via aerossol entre elas”, afirmou Foulcheir. E completou: “Ele
não matou as doninhas que foram infectadas via aerossol.” Com este dado em mãos
a equipe analisou quais mutações – além das três introduzidas por eles – haviam
ocorrido no H5N1 para torna-lo transmissível via ar. O resultado foram que
outras duas mutações realizavam o serviço.
A descoberta
não significa, porém, que as mesmas dez passagens são necessárias em humanos.
“É difícil fazer uma relação direta entre as dez passagens em doninhas e o
número de passagens em humanos... Uma cadeia limitada de transmissão em
doninhas é suficiente para fazer o vírus se adaptar. Assumimos que este número
também seria relativamente pequeno em humanos”, pontuou Foulchier. E continuou:
“Devemos assumir que o que vimos nas doninhas é mais ou menos similar em
humanos, mas não é uma correspondência direta. Há uma correspondência, mas há
exceções à regra e sempre precisamos ser cuidadosos ao interpretar trabalhos
com doninhas no contexto dos humanos.“
No segundo
artigo, os cientistas tentaram descobrir as possibilidades de que um H5N1
desenvolvesse as cinco mutações necessárias à transmissão via aerossol entre
mamíferos. A primeira constatação foi que diversas cepas do H5N1 já possuem
duas das mutações. Ou seja: seriam necessárias apenas mais três delas –
obviamente três específicas - para torná-lo transmissível por ar entre
mamíferos. “Estudamos matematicamente e computacionalmente a evolução do vírus
em um hospedeiro e em uma cadeia de transmissão entre hospedeiros. Descobrimos
que é possível para um vírus fazer três mutações dentro de um hospedeiro. Fazer
quatro ou cinco é mais difícil. E realizar as cinco parece realmente difícil.
Não sabemos, porem, ainda o quão difícil é”, afirmou Derek Smith, principal
autor do texto, da Universidade de Cambridge, na Inglaterra, na
teleconferência.
Preparação
para a pandemia
A
constatação de que essas mutações podem, em teoria, ocorrer naturalmente no
H5N1, e torna-lo transmissível entre mamíferos – possivelmente entre humanos
também – levanta ainda uma outra questão importante relacionada à primeira
frase de Alberts sobre disponibilizar os estudos para toda e qualquer pessoa com
acesso à internet: uma pessoa tecnicamente habilitada e má intencionada não
poderia pegar os dados e tentar fazer as mutações em laboratório? “Ao fazer
pesquisa, você continuamente analisa o risco-benefício dela. Eu acredito que os
benefícios são maiores do que o risco. Isto significa que não há risco? Claro
que não. Não posso dizer de jeito nenhum isso, mas, para mim, os benefícios são
maiores", afirmou Anthony Fauci, diretor do Instituto Nacional de Alergia
e Doenças Infecciosas, dos Estados Unidos, que também participou da
teleconferência e fez um artigo na revista analisando as lições aprendidas com
as pandemias passadas.
O pensamento
de Fauci vai na mesma direção do que acredita Alberts. “Esperamos que a
publicação ajude a tornar o mundo mais seguro, em especial ao estimular mais
cientistas e formuladores de políticas públicas em focar para preparar as
defesas. Isto irá requerer grandes inovações e tornar estes dados disponíveis
aumenta grandemente as chances de que estas inovações ocorram”, afirmou ele.
Se uma
pandemia vier, o mundo teria atualmente como se defender, segundo Rino
Rappuoli, chefe global de pesquisas em vacinas da Novartis Vacinas e
Diagnósticos. “Podemos em teoria estar prontos rapidamente para fazer uma
vacina. Isto é possivel hoje do ponto de vista tecnológico. A questão seria
apenas mudar o processo regulatório para garantir que ele pudesse ser utilizado
para fabricar as vacinas que possam ser então distribuídas”, afirmou ele que
também esteve presente à conferência e foi autor de um artigo na mesma edição
sobre estratégias de curto e longo prazo para preparação para uma pandemia.
Segundo a
Organização Mundial da Saúde, a mortalidade de seres humanos por gripe aviária
está em 60%.
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