A invasão
da Síria abalará a estabilidade geopolítica
EPA
A Síria,
como nunca, está próxima de se tornar objeto de agressão militar de parte dos
EUA. A decisão, segundo tudo indica, foi tomada. Definiram também a tática,
resta atravessar o Rubicão. Mas há uma dificuldade. O Ocidente não tem total
clareza em relação à estratégia.
Segundo
informou o ministro do Exterior da Rússia, Serguei Lavrov, em conversa
telefônica com o colega John Kerry, ele perguntou: "Como planejam fazer
para que sua ação contra a Síria ajude a resolver os problemas da região e não
os multiplique e não leve a região a uma verdadeira catástrofe?"
Em resposta
Kerry apenas "exortou a Rússia e a China a se unir aos esforços para
erradicação da arma química e não permitir que ela caia em mãos erradas".
É evidente que os EUA não têm compreensão plena do futuro da Síria. O horizonte
dos acontecimentos se reduz à derrubada de Bashar Assad. Em Washington preferem
não pensar no que acontecerá adiante. Caso contrário, a Casa Branca teria de
fazer analogias desagradáveis com os acontecimentos de 10 anos atrás. Em 2003
os EUA invadiram o Iraque, justamente sob pretexto de salvar o mundo de armas
de extermínio em massa, que Saddam Hussein supostamente teria. Fala o
vice-diretor do Instituto dos EUA e Canadá, Pavel Zolotarev:
"É
difícil entender até que ponto está disposto a ir Obama. Mas, naturalmente, se
impõem paralelos. Os EUA em atividade internacional, via de regra, se guia por
seus interesses nacionais, menosprezando as normas do direito internacional. Se
os interesses o exigem, eles estão dispostos a fabricar fatos."
Em 2003, o
Iraque foi invadido, Saddam enforcado. Provas de que ele tinha armas de
extermínio em massa não foram apresentadas. Os americanos abandonaram o Iraque
deixando lá um caos sócio-político e bilhões de dólares gastos numa tentativa
absurda de reestrutura da autocracia oriental segundo o modelo ocidental. Os
especialistas estão convictos de que a tentativa de democratizar a Síria
acarretará ainda maiores problemas. O presidente do Instituto de Avaliações
Estratégicas, Alexander Konovalov considera:
"A
Síria também agora não é forte como Estado: é grande a oposição, guerra civil.
Mas entre a oposição não existe unidade. A oposição consiste de grupos
inimigos, que lutam entre si com tanto prazer como com Bashar Assad. Tem-se a
sensação de que, intervindo, a América levará ao poder na Síria islamitas
radicais. E isto não corresponde aos interesses americanos nem europeus."
Por enquanto
se têm a impressão de que Obama (possivelmente não por vontade própria) se
subordina à lógica da "diplomacia de canhoneiras". Como com o Iraque,
na situação síria casus belli é o emprego de arma química, apresentado à
opinião pública mundial como fato. Mas como com o Iraque, para os americanos
será muito mais complexo acabar a guerra. Os jornais ocidentais escrevem que o
roteiro mais provável será o lançamento de mísseis de cruzeiro Tomahawk de
contratorpedeiros no mar Mediterrâneo. Em dois dias poderão ser atingidos bases
sírias da força aérea e da defesa anti-aérea, postos de comando, edifícios
governamentais, depósitos de mísseis. Os EUA não estão dispostos a se envolver
em guerra na terra, entretanto é provável que ainda assim terá de fazê-lo,
consideram os especialistas. Em primeiro lugar, será necessário impedir a
carnificina total no Estado enfraquecido. Em segundo lugar, não permitir que os
terroristas da Al-Qaeda tomem posse das reservas de armas. Isto exigirá o
estabelecimento de "zonas terrestres de controle", e a operação
terrestre se torna praticamente inevitável. Pavel Zolotarev assinala:
"Parece
que existe o desejo de tentar o roteiro iugoslavo, com ataques do ar destruir a
infra-estrutura, para que os oposicionistas possam atingir seu objetivo. Este
objetivo é teoricamente viável. Outra coisa é a que isto levará. Possivelmente
o plano estratégico consiste em que todo o potencial interno das contradições
do mundo islâmico se distenda dentro da região."
Por outro
lado, é pouco provável que Obama tenha esquecido as palavras do ex-ministro da
Defesa dos EUA, Robert Gates: "qualquer futuro ministro da Defesa, que
aconselhe o presidente a enviar tropas americanas à Asia ou à África deve ser
encaminhado a um psiquiatra". Alexander Konovalov supõe:
"Obama,
em 2012, disse que a América não iria se envolver em conflitos caros, nos quais
é fácil entrar, e muito difícil sair. No Iraque houve uma invasão canônica, com
ocupação do território e derrubada da direção. Na Síria, eu penso que não
haverá repetição de tal operação. Ali se pode falar de alguns ataques exatos
com mísseis de cruzeiro ou bombas "inteligentes". Mas quando começam
as operações de combate, é difícil supor a que elas levarão."
O ministro
da Defesa da Alemanha, Thomas de Meziere, também advertiu contra ações
precipitadas: "Eu não vejo possibilidades de invasão armada nesta terrível
guerra civil". O ministro da Defesa expressou a opinião geral de pessoas
que pensam de forma racional, salientando que os problemas do Oriente Médio não
podem ser resolvidos por meio da guerra.
Serguei Duz
fonte;http://portuguese.ruvr.ru/2013_08_27/a-invasao-da-siria-abalara-a-estabilidade-geopolitica-6798/
fonte;http://portuguese.ruvr.ru/2013_08_27/a-invasao-da-siria-abalara-a-estabilidade-geopolitica-6798/
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