terça-feira, 29 de janeiro de 2013

O Espírito da Morte Súbita


O Espírito da Morte Súbita

BATIBAT. Filipinas, espírito demoníaco morador das árvores.

Os sonhos são um enigma psiquiátrico. Apesar do avanço da ciência sobre as funções do sono, os sonhos, sua lógica e sua relação com a memória continuam sendo um mistério.

Atualmente, não se sabe muito mais do que sabiam os Sumérios que, na Mesopotâmia Antiga, começaram a narrar seus sonhos há cinco mil anos atrás.

Os relatos de sonhos, seu teor, seus significados continuam fugindo à sistematização da Ciência. Os sonhos parecem, vividamente, ser muitas coisas: um processamento aparentemente caótico das experiências e percepções vivenciadas em estado de vigília. Uma mistura de presente, passado, desejo e repulsa; de conhecidos estranhos.

Alguns ocultistas consideram o sono sem sonhos um estado bendito de inconsciência reparadora. Reflete a mente despreocupada. É o chamado Sono dos Primeiros Atlantes.

Os sonhos seriam, portanto, um distúrbio próprio da mente sobrecarregada de preocupações, medos, expectativas e frustrações.

Alguns sonhos são tão intensamente reais que o sonhador acredita estar vivendo, para o bem e para o mal, uma determinada situação. O sentimento de realidade é tão forte que manifesta-se no corpo físico. Eis porque muitas pessoas falam dormindo, riem, choram, resmungam, gritam ou gopeiam o ar. A interação do sonhador com o sonho torna-se uma experiência verdadeira. 

Quando o sonho envolve a iminência de morte do sonhador ou a química do extremo medo, como a queda em um abismo, em geral, entra em ação um mecanismo de defesa orgânico: a mente acorda antes que o corpo venha a reagir como se estivesse, de fato, sujeito à queda fatal. 

Porque morrer sonhando pode resultar em morte real por um colapso do sistema nervoso ou seja, o susto mata a vítima. O natural é acordar antes mas por razões que a ciência não explica, casos mais ou menos raros de morte súbita durante o sono, cujas vítimas são homens jovens e saudáveis, acontecem todos os anos.

Os médicos acreditam que o distúrbio envolve ritmos cardíacos irregulares e fibrilação ventricular mas as vítimas não têm doença prévia nem problemas estruturais no coração.

A causa da Síndrome da Morte Súbita Inesperada Noturna e os fatores de risco eventualmente significativos nas ocorrências são um mistério para a medicina. Na Tailândia, 230 casos desse tipo de morte, vitimando homens jovens e sadios ocorreram em um período de oito anos.

Nas Filipinas, a Síndrome - ali conhecida como bagungot, manifesta-se mais gravemente: mata 43 homens a cada 100 mil homens por ano.

A tradição popular atribui essas mortes aos ataques de um agente sobrenatural: osbatibats, espíritos demoníacos moradores das árvores. Quando uma árvore é cortada o demônio vai junto com a madeira e poderá assombrar uma casa ou um poste feito dessa madeira. 

Ao se tornar visível, geralmente toma a forma de uma mulher adulta e gorda. Ela age prioritariamente contra os homens, sentando-se sobre o peito de suas vítimas, sufocando-as até a morte.

No Laos, para o povo Hmong, o espírito maligno associado a esse tipo de morte é chamado tsuam dab, também lá, tem a forma de uma mulher. Para evitá-la, os homens disfarçam-se de mulher vestindo roupas femininas quando vão dormir na tentativa de confundir o espírito.

Essa idéia do espírito maléfico que mata sufocando as pessoas durante o sono parece ser uma crença universal. No Brasil existem ao menos duas versões dessa entidade: a versão indígena pós-catequese, Jurupari e a colonial-rural Pisadeira.


Sobre esse tipo de espírito do pesadelo, escreve Câmara Cascudo* :

Pisadeira. É o pesadelo, personificado em uma velha ou um velho. É a nocturna oppressio romana, a opressão noturna [atribuida à intervenção] maléfica de um íncubo, demônio ou espírito perverso. 

Para quase todos os povos o pesadelo era causado por um gigante ou um anão, um mulher ou um homem horrendos que, aproveitando o sono, sentava-se sobre o estômago do adormecido e oprimia-lhe o tórax, dificultando a respiração.

[Antes da colonização os indígenas brasileiros acreditararam que o pesadelo era] ...uma velha que os visitava com seu cortejo de agonias indizíveis. Chamavam-lhe os tupis Kerepiiua. [Durante a colonização, no processo de catequese, os jesuítas deram a Jurupari o papel de espírito do mau, demônio da noite]. 

* CAMARA CASCUDO, Luis da. Dicionário do Folclore Brasileiro, p 521. São Paulo: Global, 2001.

FONTE: Stranger Than Fiction: A Real "Dream Killer" Claims Scores of Lives Every Year.
REEL-Z, publicado em 29/01/2012.
[Stranger Than Fiction: A Real "Dream Killer" Claims Scores of Lives Every Year ]

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