O
Espírito da Morte Súbita
BATIBAT.
Filipinas, espírito demoníaco morador das árvores.
Os sonhos
são um enigma psiquiátrico. Apesar do avanço da ciência sobre as funções do
sono, os sonhos, sua lógica e sua relação com a memória continuam sendo um
mistério.
Atualmente,
não se sabe muito mais do que sabiam os Sumérios que, na Mesopotâmia Antiga,
começaram a narrar seus sonhos há cinco mil anos atrás.
Os relatos
de sonhos, seu teor, seus significados continuam fugindo à sistematização da
Ciência. Os sonhos parecem, vividamente, ser muitas coisas: um processamento
aparentemente caótico das experiências e percepções vivenciadas em estado de
vigília. Uma mistura de presente, passado, desejo e repulsa; de conhecidos
estranhos.
Alguns
ocultistas consideram o sono sem sonhos um estado bendito de inconsciência
reparadora. Reflete a mente despreocupada. É o chamado Sono dos
Primeiros Atlantes.
Os sonhos
seriam, portanto, um distúrbio próprio da mente sobrecarregada de preocupações,
medos, expectativas e frustrações.
Alguns
sonhos são tão intensamente reais que o sonhador acredita estar vivendo, para o
bem e para o mal, uma determinada situação. O sentimento de realidade é tão
forte que manifesta-se no corpo físico. Eis porque muitas pessoas falam
dormindo, riem, choram, resmungam, gritam ou gopeiam o ar. A interação do
sonhador com o sonho torna-se uma experiência verdadeira.
Quando o
sonho envolve a iminência de morte do sonhador ou a química do extremo medo,
como a queda em um abismo, em geral, entra em ação um mecanismo de defesa
orgânico: a mente acorda antes que o corpo venha a reagir como se estivesse, de
fato, sujeito à queda fatal.
Porque
morrer sonhando pode resultar em morte real por um colapso do sistema nervoso
ou seja, o susto mata a vítima. O natural é acordar antes mas por razões que a
ciência não explica, casos mais ou menos raros de morte súbita durante o sono,
cujas vítimas são homens jovens e saudáveis, acontecem todos os anos.
Os médicos
acreditam que o distúrbio envolve ritmos cardíacos irregulares e fibrilação
ventricular mas as vítimas não têm doença prévia nem problemas estruturais no
coração.
A causa da
Síndrome da Morte Súbita Inesperada Noturna e os fatores de risco eventualmente
significativos nas ocorrências são um mistério para a medicina. Na Tailândia,
230 casos desse tipo de morte, vitimando homens jovens e sadios ocorreram em um
período de oito anos.
Nas
Filipinas, a Síndrome - ali conhecida como bagungot,
manifesta-se mais gravemente: mata 43 homens a cada 100 mil homens por ano.
A tradição
popular atribui essas mortes aos ataques de um agente sobrenatural: osbatibats,
espíritos demoníacos moradores das árvores. Quando uma árvore é cortada o
demônio vai junto com a madeira e poderá assombrar uma casa ou um poste feito
dessa madeira.
Ao se tornar
visível, geralmente toma a forma de uma mulher adulta e gorda. Ela age prioritariamente
contra os homens, sentando-se sobre o peito de suas vítimas, sufocando-as até a
morte.
No Laos,
para o povo Hmong, o espírito maligno associado a esse tipo de morte é chamado tsuam
dab, também lá, tem a forma de uma mulher. Para evitá-la, os homens
disfarçam-se de mulher vestindo roupas femininas quando vão dormir na tentativa
de confundir o espírito.
Essa idéia
do espírito maléfico que mata sufocando as pessoas durante o sono parece ser
uma crença universal. No Brasil existem ao menos duas versões dessa entidade: a
versão indígena pós-catequese, Jurupari e a colonial-rural
Pisadeira.
Sobre esse
tipo de espírito do pesadelo, escreve Câmara Cascudo* :
Pisadeira.
É o pesadelo, personificado em uma velha ou um velho. É a nocturna oppressio romana, a opressão
noturna [atribuida à intervenção] maléfica de um
íncubo, demônio ou espírito perverso.
Para
quase todos os povos o pesadelo era causado por um gigante ou um anão, um
mulher ou um homem horrendos que, aproveitando o sono, sentava-se sobre o
estômago do adormecido e oprimia-lhe o tórax, dificultando a respiração.
[Antes da
colonização os indígenas brasileiros acreditararam que o pesadelo era] ...uma
velha que os visitava com seu cortejo de agonias indizíveis. Chamavam-lhe os
tupis Kerepiiua. [Durante a colonização, no processo de catequese,
os jesuítas deram a Jurupari o papel de espírito do mau, demônio da
noite].
* CAMARA
CASCUDO, Luis da. Dicionário do Folclore Brasileiro, p 521. São
Paulo: Global, 2001.
FONTE: Stranger Than Fiction: A Real
"Dream Killer" Claims Scores of Lives Every Year.
REEL-Z, publicado em 29/01/2012.
[Stranger Than Fiction: A Real "Dream
Killer" Claims Scores of Lives Every Year ]
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