terça-feira, 17 de junho de 2014

Primeira superbactéria encontrada em alimento preocupa especialistas

Primeira superbactéria encontrada em alimento preocupa especialistas

Amostra descoberta no Canadá coloca especialistas em alerta sobre os riscos de disseminação do micro-organismo

Por Fabrízia Ribeiro

Fonte da imagem: Shutterstock

Os casos de contaminação pelas superbactérias aumentaram assustadoramente nos últimos anos. Agora, os pesquisadores canadenses divulgaram um breve relatório para enviar o alerta ao mundo inteiro: a primeira bactéria resistente a antibióticos foi encontrada em um alimento, mais especificamente em uma lula importada da Coreia do Sul que foram compradas em uma loja chinesa no Canadá.

O relatório – que está disponível no periódico Emerging Infectious Diseases – vem assinado pelos pesquisadores da Universidade de Saskatchewan e informa que a lula continha uma variedade de bactéria comum (Pseudomonas) que carregava um gene que desencadeia a produção de uma enzima chamada VIM-2 carbapenemase – que é capaz de tornar as bactérias mais resistentes.

E é justamente na “carbapenemase” que mora o problema. Na verdade, os carbapenemas são um dos últimos recursos em termos de antibióticos restantes no mundo. O avanço global da resistência ao carbapenema – através de superbactérias como a NDM da Ásia e a OXA e VIM originalmente do sul da Europa – é o que os especialistas têm considerado desde o ano passado como uma ameaça mundial.


A disseminação

Boa parte da disseminação da resistência ao carbapenema vem acontecendo através das pessoas, que acabam se contaminando em hospitais ou acidentalmente com o consumo de água imprópria, especialmente no sul da Ásia. E como a resistência ao carbapenema acontece em grande parte através das bactérias do intestino, alguns microbiólogos estão apreensivos com o fato das superbactérias caírem na alimentação.

Também não podemos nos esquecer de que muitas das doenças de origem alimentar se desenvolvem na chamada rota fecal-oral – que nada mais é do que bactérias fecais que acabam entrando em contato com o que comemos. Como algumas dessas bactérias são famosas por carregarem enzimas como a NDM e a carbapenemase, não podemos deixar de considerar os riscos dos alimentos serem uma das fontes de transmissão.

Essa questão é fundamental porque os programas de saúde dos governos que lidam com bactérias nos alimentos estão limitados a locais específicos e determinados tipos de alimentos e bactérias – o que dá margem para que algum elemento sempre fique de fora.

“... o escopo dos programas de busca a organismos resistentes a drogas está limitado em grande parte a produtos agrícolas (aves, bovinos e suínos). Em nossas sociedades modernas e etnicamente diversas, carnes que ocupam nichos de mercado, incluindo produtos importados, estão se tornando cada vez mais comuns. A disseminação mundial [de vários tipos de bactérias] entre humanos tem sido facilitada por passageiros intercontinentais, mas o papel do comercio global de alimentos na disseminação ainda não foi investigado.”

As consequências

Além do surgimento da resistência em ambientes onde ela não existia antes, os especialistas chamam a atenção para outras consequências. Como as bactérias resistentes ao carbapenema tendem a se desenvolver no intestino, qualquer meio que as conduza até lá pode ser problemático. O risco não é que a bactéria cause imediatamente uma doença de origem alimentar, até porque a bactéria que carrega esse gene não é de uma variedade capaz de causar doenças.

Em vez disso, a preocupação é que o DNA que confere essa característica seja transmitido para as demais bactérias que fazem parte da vasta e diversa colônia que vive no intestino e assim passe a fazer parte da flora intestinal, constituindo um risco de doenças resistentes aos medicamentos quando, no futuro, o sistema imunológico estiver abalado.

O fato dessa superbactéria ter sido encontrada em um fruto do mar – que é o tipo de comida que costuma ser servido com pouco cozimento ou até mesmo cru – só aumenta as chances de contaminação. Isso sem levarmos em consideração a possibilidade da bactéria que contém o gene ter se espalhado em outros frutos do mar, outros alimentos da mesma loja ou na cozinha de quem, porventura, levou uma dessas lulas para casa.

Fonte: http://www.megacurioso.com.br/virus-bacterias-e-protozoarios/44605-primeira-superbacteria-encontrada-em-alimento-preocupa-especialistas.htm


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