Foto: REUTERS/Gleb Garanich
Para a Ucrânia se acabou o gás gratuito. As negociações sobre as dívidas ucranianas fracassaram e a Gazprom transferiu Kiev para o regime de pré-pagamento desde a manhã de segunda-feira. A Comissão Europeia, que se apresentava como mediadora nessas reuniões, está em pânico: ela compreende que o gás em trânsito para Europa, se chegar ao destino, não chegará todo.
Washington descartou mesmo toda a diplomacia. A Casa Branca apela abertamente à União Europeia para que esta “utilize a disputa do gás entre a Ucrânia e a Rússia para reforçar ainda mais seu apoio a Kiev”. Mas tudo indica que a Europa já entendeu que ficou num beco sem saída. Os norte-americanos nem precisam se preocupar: eles têm gás de xisto que chega e sobra. Mas quem irá passar frio no próximo inverno serão os europeus. Assim, Bruxelas ainda não reage aos apelos do seu companheiro mais velho – agora há mais coisas em jogo além da política.
A posição de teimosia das autoridades de Kiev (assim como, aliás, a dos seus consultores ocidentais) teve um desfecho lógico: a Gazprom não podia aguentar esse circo eternamente. O premiê russo Dmitri Medvedev escreveu no seu Twitter uma frase lapidar: “Acabou o almoço grátis!” Agora Kiev irá receber o gás que tiver pago. Ou seja, se tivermos em conta o estado do tesouro ucraniano, isso deverá representar zero metros cúbicos. Isso significa que, cumprindo uma velha tradição ucraniana, ele irá retirar emprestado, digamos assim, o gás transportado em trânsito para a Europa.
Bruxelas compreende isso perfeitamente, e por isso começou a correria. Chocada com a posição rígida da Gazprom (o consórcio do gás russo teima em não querer vender o gás a preços de saldo), a União Europeia começou apressadamente a “estudar todas as possibilidades para diversificar os fornecimentos de gás”. O comissário europeu Gunther Oettinger, que o afirmou, recordou o South Stream, que contorna a Ucrânia, mas fez a ressalva que nesse projeto tudo deveria estar em conformidade com a legislação europeia. Se bem que ninguém, nem o presidente da Gazprom Alexei Miller nem os analistas, entendem quais são as discordâncias, refere o economista Marsel Salikhov:
“O South Stream está sendo construído pela Rússia, pela Gazprom. Logo, ele aumenta a diversidade e a segurança energética da Europa. Já as queixas que são apresentadas contra o South Stream se devem sobretudo a fatores políticos.”
A Comissão Europeia tinha exigido anteriormente que a Bulgária e a Sérvia cessassem todos os trabalhos relacionados com esse gasoduto. Ela decidiu que ele não corresponde ao famigerado Terceiro Pacote Energético, um documento que proíbe a companhia extratora de ser também proprietária do gasoduto. Contudo, para esses países o South Stream é simplesmente vital, considera o analista político sérvio Misa Durkovic:
“A situação com a execução do South Stream vai ficando cada vez mais dramática. Nós vemos que a Hungria, a Áustria e a Bulgária estão interessadas no South Stream. Um outro aspeto é que a pressão dos centros de decisão europeus e norte-americanos é enorme. Portanto, agora é a vez de a Rússia dar uma resposta. Estou convencido que Moscou possui os mecanismos necessários. Sem esse gasoduto nós, a Sérvia e a República Sérvia da Bósnia, iremos enfrentar uma nova fase de crise e instabilidade.”
O mercado europeu já reagiu às informações sobre a interrupção dos fornecimentos de gás à Ucrânia. Os preços no mercado spot aumentaram em mais de 7%. Os peritos explicam abertamente que isso é provocado pelo nervosismo e pelos receios dos europeus que a Ucrânia comece se apropriando do gás destinado à Europa.
Todos esses fatores devem estimular a Comissão Europeia a rever suas decisões anteriores, diz o analista principal da companhia de investimentos Zerich Capital Management Nikolai Podlevskikh:
“Essa posição se tornou mais intransigente depois dos já conhecidos acontecimentos da primavera deste ano. Ela parecia completamente irreconciliável, inclusive na questão do cumprimento pelo South Stream das disposições do Terceiro Pacote Energético. Contudo, num contexto de previsíveis dificuldades com o trânsito do gás pelo território da Ucrânia, penso que a posição da Europa relativamente à aplicação do Terceiro Pacote Energético poderá se flexibilizar.”
Também existe outro caminho que evita uma passagem pela Ucrânia e que é o Nord Stream. Aqui também a Comissão Europeia não autoriza um uso total do prolongamento desse gasoduto em território europeu, que é o gasoduto OPAL. Isso apesar de a Alemanha estar muito interessada. A Comissão Europeia devia ter dado uma resposta em março do corrente ano, mas adiou-a para meados de julho. Contudo, parece que vai ter de se apressar.
Em resumo, já todo o mundo viu: é impossível passar sem os dois gasodutos russos. O ministro das Relações Exteriores da Rússia Serguei Lavrov, depois das conversações com seu homólogo sérvio Ivica Dacic, declarou que Moscou e Belgrado confirmaram todos seus acordos sobre o South Stream. A interrupção dos trabalhos desse projeto é temporária, já que esta é a única solução sistemática dos problemas de abastecimento de gás ao Sudeste da Europa. Tal como o Nord Stream o é para a Europa Central e do Norte.
Fonte;
Leia mais: http://portuguese.ruvr.ru/news/2014_06_17/Europa-teme-ficar-sem-g-s-9050/
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