Foto: EPA
O
escândalo em torno da espionagem americana chegou a Seul. De acordo com as
informações da mídia estrangeira, é possível que a Agência de Segurança
Nacional tivesse vigiado também os principais políticos de Seul. As autoridades
da Coreia do Sul aguardam que Washington apresente explicações e desculpas.
Os peritos
constatam que a presença dos serviços secretos americanos na Coreia do Sul e a
sua atividade intensa neste país não constituem segredo para quem quer que
seja. O país vive no estado de “em pé de guerra” por causa do conflito com o
seu vizinho do norte. Todavia, a mídia coreana informa que as autoridades do
país sabiam que a CIA e o serviço de inteligência militar trabalhavam no seu
território. Ambas as estruturas espionavam contra a Coreia do Norte e
participavam os segredos obtidos a Seul. Mas a atividade da Agência de
Segurança Nacional resultou uma surpresa, pois o objeto da sua monitoração eram
políticos influentes da Coreia do Sul, incluindo o presidente.
O mais
provável é que os novos desmascaramentos façam subir ainda mais o grau de
antipatia em relação aos americanos mas não resultem em nenhum passo concreto.
É que as maiores economias da Ásia, - o Japão, a China e a Coreia do Sul, -
dependem demais dos EUA – do mercado americano, da transferência de tecnologias
americanas, etc. É possível que o grau da dependência política seja ainda mais
alto, opina o politólogo Oleg Matveichev, professor da Escola Superior de
Economia
“A América é
o garante da segurança do Japão e da Coreia do Sul contra a Coreia do Norte e a
China, potências comunistas poderosas e agressivas. Por isso, a Coreia do Sul
não irá além de alguns gestos de descontentamento. Os seus líderes devem
preservar a face perante o povo, devem fazer a declaração ritual, tipo “estamos
descontentes, somos um país soberano”.
Aliás, o
escândalo em torno da espionagem vai impressionar um cidadão sul-coreano muito
menos do que um europeu. Gueorgui Toloraya, diretor e Programas de Estudo da
Coreia do Instituto de Economia junto da Academia das Ciências Russa, aponta
que na cultura confuciana do Extremo Oriente, o conceito de “privacidade”, isto
é, inviolabilidade da vida particular, está muito menos desenvolvido
do que na Europa. Por isso, o desmascaramento da espionagem não irá suscitar
uma reação tão forte. Na Ásia, os escândalos irão extinguir-se muito mais
rapidamente do que no Velho Mundo, diz Gueorgui Toloraya
“Se um
sul-coreano simples souber que os americanos têm interceptado as conversas dele
e das personalidades políticas do seu país, vai dizer, - que fazer, são aliados!
Não acredito que isso provoque um furacão político, como no Brasil ou na
Europa. O mais provável é que tudo se limite a certas declarações habituais e é
pouco provável que isso venha a minar as relações de aliança”.
Basta
recordar que a própria Coreia do Sul surgiu em resultado do acordo
americano-soviético de 1945 sobre a divisão das esferas de influência na
península coreana. As disposições geopolíticas, em resultado das quais o Japão
e a Coreia do Sul ficaram na “órbita” dos EUA formaram-se durante mais do
meio-século e, para destruí-las, um só Snowden evidentemente não basta.
Nenhum comentário:
Postar um comentário